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08 de Março de 2023

A serpente falante (parte 2)

Pe. Miguel Ramon

Neste texto continuamos nossa reflexão sobre a presença da serpente falante no Livro do Genesis.
A serpente “sabe” que é o desejo do homem e da mulher se tornarem igual à Deus, decidindo por si mesmo o destino da sua vida e dispondo do direito de decidir sobre o bem e o mal. A história da humanidade nos ensina que desta forma se impõe sempre a decisão do mais forte. Os mais fracos são manipulados e obrigados a aceitar a “verdade” dos que detêm as informações e os meios para fazer valer sua vontade.

Muito esperta, a serpente vai ao encontro deste desejo usando de mentiras como se Deus tivesse proibido de comer de todas as árvores que estão no Jardim. (Gn 3,1) Ela usa de astucia, que hoje chamaríamos de “fake News”, para insinuar a falsa mensagem que era Deus o mentiroso ao afirmar que quem comesse da fruta da árvore ia morrer. (Gn 3, 2-3) Facilmente podemos atribuir à serpente a origem de “fake News”.
O fato de a serpente falar somente com Eva é mais um elemento cultural da época patriarcal e machista em que o autor escreveu. É, portanto, a mulher que facilmente se deixa seduzir pela aparência gostosa e atraente do mal.

É deplorável que a partir de uma leitura fundamentalista e equivocada desta passagem bíblica houve um reforço de preconceitos e discriminação de mulheres. Não há, na realidade, nenhum argumento bíblico que possa atribuir à mulher maior responsabilidade para a existência do mal no mundo. Tanto homens como mulheres prestam ouvidos à “serpente” que continua falando e seduzindo. Podemos nos perguntar quais são, na atualidade, as maiores tentações que ambos, tanto homens como mulheres, devem enfrentar para poder viver num mundo bem melhor e mais conforme o “Paraíso” que Deus criou para eles.

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