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18 de Setembro de 2023

Deus guerreiro ou Deus de Paz?

Pe. Miguel Ramon

No Antigo Testamento encontramos muitos textos que apresentam Deus como guerreiro. Ele luta em favor do seu povo e elimina os seus inimigos. Ele é o Senhor dos Exércitos. Na mentalidade da época, Deus está presente na história e é responsável por tudo que acontece. Vitórias e derrotas nas constantes batalhas que o povo de Israel tem que travar com seus vizinhos dependem sobretudo da força que Deus possa dar aos seus combatentes.

Esta ideia de um Deus que abençoa as guerras estava muito presente nas Cruzadas quando os exércitos cristãos combatiam os muçulmanos. Partiu-se da ‘falsa’ concepção que a Igreja, considerada como uma potência mundana, devia ser defendida militarmente contra heréticos e ateus. Durante a segunda guerra mundial, os soldados alemães tinham na fivela do cinto a inscrição “Deus conosco”. Tinham a convicção ou pelo menos foram induzidos a acreditar que lutavam com o bem querer de Deus. Foi atualizada na guerra do Vietnã quando altas autoridades eclesiásticas abençoaram as tropas americanas que partiram para a guerra. Não há nada a estranhar então que o Patriarca de Moscou aparece ao lado do presidente Putin e abençoa sua intervenção bélica. Esta maneira de se referir a Deus para justificar várias formas de violência, discriminação, corrida armamentista e eliminação do inimigo, contudo, não pode se sustentar quando se olha para Jesus e sua mensagem de Paz. Jesus é acolhido como Príncipe da Paz e é nele que se revela a verdadeira face de Deus.

Quando Jesus é apresentado como Príncipe da Paz, não é para impor seu poder sobre os outros com a força dos seus exércitos como fazem os imperadores romanos. Sempre houve na história do cristianismo tendencias para estabelecer mini impérios. Durante muitos séculos a Igreja Católica se vestiu de poderes mundanos. Na atualidade diversas igrejas evangélicas buscam construir um poder político. Os meios utilizados para estabelecer e defender este “império” em geral são pouco evangélicos. Jesus se opõe a qualquer tipo de violência para se defender. Quando, no jardim de Getsêmani, Pedro quer tirar a espada para socorrer seu Mestre, ele é repreendido com as palavras: “Põe a tua espada na bainha.” (Jo 18, 11) Nem mesmo apela aos exércitos celestiais para evitar que seja preso pelos soldados romanos. “Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos? “(Mt 26, 53) O Reino que Jesus veio instaurar na terra não é como os reinos do mundo que continuamente estão em guerra entre si e precisam de armas e soldados para se proteger e, eventualmente aumentar seu território e seu poder. Definitivamente, Jesus não é de guerra, mas de Paz. E a imagem de Deus que ele nos mostra não é de um guerreiro ou de um Soberano onipotente. É um Deus de Amor e de Perdão, um Deus amoroso e misericordioso que abre os braços para todos. Os braços abertos na cruz e suas palavras: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” (Lc 23,34), são uma das manifestações mais claras desta visão diferente de um Deus de Paz e não de guerra e eliminação dos inimigos. Aliás, a proposta de Jesus para seus discípulos é justamente o oposto: “Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” (Mt 5, 43) Sempre de novo os discípulos vão precisar vencer a tentação de se afirmar diante dos outros através da força, de armas e todo tipo de violência física ou moral. O cristão se afasta da imagem de um Deus guerreiro, porque em Jesus encontra um Deus de Paz.

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