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12 de maio de 2022

Educar para a Paz (parte 1)

Pe. Miguel Ramon

Mais do que nunca sentimos a necessidade de uma educação que prepara as pessoas para serem agentes de paz, semeadores de confraternização e convivência pacífica entre pessoas e povos diversos. O clima de ódio e de violência que se espalha pelo Brasil nos mostra como é urgente se empenhar para estabelecer relações positivas, respeitosas e amorosas entre todos. Os conflitos sangrentos na Ucrânia e em outras partes do mundo nos mostram a crueldade e a desumanidade das guerras que vitimizam milhares de inocentes.

Herdamos do império Romano, que submeteu através da força todos os seus oponentes, o ditado: “Se quer a paz, faça a guerra.” Os imperadores e poderosos daquele tempo entenderam que para ter a paz se devia combater e submeter os inimigos através de vitórias significativas nos campos de batalha. Os vencedores voltaram como heróis na sua terra natal com grandes cortejos triunfais, trazendo os vencidos acorrentados, humilhados e escravizados. Era a vitória do mais forte sobre o mais fraco. A duras penas começamos a entender que a verdadeira paz não se constrói através da submissão e da eliminação total do mais fraco. Mas este entendimento, infelizmente, ainda não penetrou em todas as mentes, especialmente daqueles que ainda sonham com poder e supremacia. Ainda tem quem sonha com a paz dos cadáveres. Cria se a falsa segurança e a própria tranquilidade com a negação e a eliminação dos direitos dos outros. A história não cansa de nos mostrar que assim não se constrói paz duradoura.

Paz é muito mais que a vitória em conflitos ou a ausência de atritos. Não se consegue uma convivência pacífica quando se usa qualquer tipo de violência física, psicológica, moral, econômica ou social. Não haverá paz enquanto houver exploração sexual, discriminação, racismo, preconceito e perseguição de minorias, distribuição injusta de renda e oportunidades desiguais de vida e sobrevida. Não haverá paz enquanto as riquezas da terra se concentram em pequenos grupos de elite e a grande parte da população mundial ainda não tem o que comer, condenado a morrer de fome. Não se pode sonhar com um mundo em harmonia onde uns se aproveitam dos outros e das riquezas naturais só para realizar os próprios desejos e aspirações. Pode-se haver uma convivência amigável entre as pessoas quando um número reduzido de oligarcas navega pelos mares em iates superluxuosos enquanto milhares de pescadores nem dispõem de barcos e redes simples para pegar os peixes necessários para se alimentar e sustentar suas famílias?

Não é difícil perceber que no Brasil as pessoas vivem em mundos diferentes, muitas vezes separadas umas das outras por muros de proteção. Existe uma verdadeira segregação social e ainda que todos usem o português para se expressar, não usam a mesma língua. A comunicação entre as diversas classes sociais é quase inexistente. O linguajar dos poderosos não está em sintonia com a vida da maioria dos habitantes do mesmo país. Os que têm tudo não ligam para os sem nada: sem-terra, sem trabalho, sem teto, sem saúde, sem educação e sem perspectivas para um futuro melhor. É uma situação que gera frustação, desespero e violência. É um terreno fértil para revolta social que quase sempre tem como resposta a opressão policial. Não é por acaso que as maiores vítimas são as pessoas que moram nas periferias das grandes cidades. As estatísticas provam que são quase sempre jovens negros que caem baleados por policiais que justificam suas ações como combate ao crime e preservação da ordem e da paz. É difícil acreditar que por este caminho se pode construir a verdadeira paz. É urgente buscar e promover outros caminhos que valorizam cada pessoa e a ajudam a sair da situação de desumanidade em que se encontra. É preciso um processo educativo em que todos participem: crianças e adolescentes, suas famílias, escolas, igrejas, comunidades, professores nos espaços educativos, governos, meios de comunicação e até unidades policiais. Estas podiam ser não apenas forças repressivas, mas sobretudo orientadores e pacificadores através de atividades culturais, esportivas e formativas.

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