02 de junho de 2022
Educar para a Paz (parte 2)
Pe. Miguel Ramon
Na sociedade conflitiva e socialmente discriminatória em que vivemos, é importante educar para a Paz, não negando ou colocando panos quentes em cima das injustiças, mas para motivar todas as pessoas ansiosas de segurança e harmonia e empoderar especialmente as mais fracas na busca de uma maior fraternidade e convivência pacífica. Um primeiro passo a ser dado é partilhar informações e meios de acesso às redes sociais que possam dar a todos a possibilidade de uma constante aprendizagem. É ajudar as pessoas a lidar com toda a informação disponível e adquirível para integrá-la num projeto de vida que o dignifica e o preenche de felicidade e realização. Deixar as pessoas na ignorância é um dos piores instrumentos para manipular, escravizar e explorá-la. Leva inevitavelmente à exclusão e à negação da plena cidadania. Não se constrói a paz com cidadãos que não têm participação e compreensão das decisões e dos processos de governo.
Um segundo passo pode ser a promoção e organização de experiências vivenciais de paz e de amor. Especialmente para crianças e adolescentes que em muitas ocasiões se sentem desprezadas e rejeitadas, e por isso mesmo revoltadas, é de grande importância que possam fazer uma experiencia diferente em que se sintam amadas e valorizadas. Em processos educativos que querem contribuir para uma sociedade de paz, crianças e adolescentes, especialmente as marcadas por falta de amor no próprio ambiente familiar ou social em que vivem, precisam de carinho e afeto que possam diminuir os efeitos negativos da sua carência. Se são confrontadas constantemente com brigas e violência até no próprio lar, encontrar aconchego e ternura pode transformar vidas.
Em uma sociedade extremamente individualista, onde há uma luta constante para ser melhor do que o outro, é importante criar ambientes de encontro e de diálogo em que cada um possa desenvolver e partilhar seus talentos e capacidades. Aprende-se desta forma a conviver com o outro, com seus valores, com seus limites e suas possibilidades. Tudo isso num ambiente de valorização e não num clima de concorrência que tende a diminuir o que há de melhor em cada um. O processo educativo pode contribuir para que haja respeito e reconhecimento das diferenças levando a um mútuo enriquecimento e em consequência a uma maior harmonia entre todos.
Outro passo importante é escapar da ditadura do ter. Uma cultura de paz não se pode construir na base naquilo que as pessoas possuem. A sociedade do consumismo selvagem, propaga a ideia de que o valor de uma pessoa é determinado pela quantidade de bens ou talentos extraordinários que possui. Desta forma quem possui menos ou quase nada é considerado inferior e muitas vezes é objeto de escarnio, perseguição e ofensa violenta. É assim que os moradores de rua e favelados são tratados como seres inferiores e perturbadores da ordem e da paz. Sua presença incomoda e parece ser uma ameaça para quem possui o que falta ao indigente. Na realidade o que ameaça a paz é a injusta distribuição de bens e a falta de valorização da pessoa pelo que é e não pelo que tem. São muito importantes para promover a cultura de Paz todas as atividades artísticas e esportivas que permitam a inclusão social e a valorização de cada pessoa como sujeito, capaz de ser protagonista da sua própria história. Muitas vezes basta criar oportunidades para que os talentos desabrochem. Resgata-se desta forma a autoestima e a capacidade de viver em paz com todos.
Na perspectiva da fé cristã não podemos nos esquecer das palavras das Bem-Aventuranças: “Felizes os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5,9)
O cristão antes de tudo tem que ser um artesão da Paz. Ele não partilha a falsa ideia que é através de armas que se garanta a segurança e a Paz. Ele acredita na força do amor que acolhe, reconhece as diferenças e procura uma vivência pacífica com o outro. A sabedoria da fé, que atua com amor o faz promover um processo educativo, a exemplo de Jesus, atento às necessidades de cada pessoa, na escuta de cada um, promovendo a humanidade dos mais fracos e excluídos. Esta educação respeita as diferenças e as liberdades individuais, sem jamais forçar ou obrigar. Não compactua com as injustiças e as discriminações, por exemplo a respeito das pessoas consideradas pecadoras, as crianças e as mulheres. Ela promove o bem-estar de cada pessoa, mas não perde de vista o bem comum, o Reino de Deus onde todos possam viver como irmãos. Ela não é individualista e não promove um consumismo desenfreado que não leva em consideração as necessidades do outro. Se recusa a partilhar e ameaça destruir a casa comum e a Natureza. Olhando para Jesus enxergamos igualmente sua paciência e sua pedagogia vivencial que parte da realidade concreta e fala a linguagem simples das pessoas que o acompanham. Para muitos era um grande educador, um verdadeiro Mestre. Sua proposta de Paz passa pela fraternidade universal (resumido no Pai Nosso) e a inclusão social de todos (apresentado nas Bem-Aventuranças e no Juízo Final). Nele encontramos a Paz em plenitude.