19 de Setembro de 2022
Educar para o discernimento
Pe. Miguel Ramon
Diariamente centenas de informações chegam até nós. Somos bombardeados por notícias verdadeiras e outras nem tanto ou até totalmente falsas. Fala-se constantemente de fake News. Neste contexto é de suma importância saber discernir, saber distinguir entre certo e errado em tudo que chega aos nossos ouvidos e se apresenta diante dos nossos olhos. Precisamos estar preparados para poder julgar de forma correta, tomar decisões acertadas e seguir caminhos seguros para uma vida feliz e bem-sucedida.
Um dos pressupostos para se discernir bem é a capacidade de dialogar e de escutar o diferente. Só no confronto com opiniões e atitudes variadas é possível analisar e formar uma opinião daquilo que contribui para o próprio bem e o dos outros. Há, portanto, a necessidade de uma educação crítica que avalia e examina as diversas propostas. Isso vale para todas as formas de conhecimento e de projetos de vida. Daí dá para entender por que qualquer regime autoritário se opõe à educação e à formação de cidadãos críticos. Pessoas que não têm capacidade de discernir se deixam manipular facilmente. Tira-se delas a capacidade e a vontade de estudar e de comparar entre diversas possibilidades de compreensão e de posicionamento diante das diversas realidades que se apresentam.
Um dos maiores desafios em tempos de crescente intolerância e de ideologias fundamentalistas, que desrespeitam e até combatem o diferente, é educar para o discernimento, tornar as pessoas habilitadas para refletir e tomar suas decisões de forma racional, baseadas num mínimo de informação confiável, especialmente quando se trata de algo importante para a própria vida ou para a convivência com os outros e a sobrevivência na casa comum.
Este discernimento é valioso para as escolhas que uma pessoa possa tomar na vida pessoal: a constituição da família, o número de filhos, a casa onde pode morar o tipo de trabalho que quer fazer e tantas outras áreas que afetam esta vida, mas é igualmente importante para poder enxergar com clareza o tipo de sociedade em que está vivendo e saber avaliar suas mazelas como desemprego, racismo, discriminação, desigualdade e exclusão social, entre outros. Para além da constatação dos fatos precisa também ter a capacidade e a vontade de entender quais são as causas de tanta injustiça e de tanta exploração de uns pelos outros. O processo de discernimento que deve estar presente em toda a vida contribui desta forma a um melhor conhecimento de si mesmo, um amadurecimento das relações sociais e uma tomada de consciência da responsabilidade frente a busca de uma sociedade mais justa e igualitária e uma ecologia integral.
Este discernimento é importante para todas as áreas da vida, inclusive para as práticas religiosas. A manipulação dos sentimentos religiosos é um perigo crescente. Sempre surgem líderes populistas que dizem falar em nome de Deus e se apresentam como representantes do único verdadeiro Messias. Existe ainda muita religiosidade que deixa as pessoas com uma fé infantil em vez de ajudá-las a ter a capacidade de discernir qual é o verdadeiro projeto de Deus para sua vida e para o mundo. No Salmo 112 podemos ler que o DEUS QUE ESTÁ ACIMA DE TUDO levanta da poeira o indigente e retira do lixo o pobrezinho. É obviamente um DEUS que olha para a miséria do seu povo e quer tirá-lo do sofrimento. É um Deus que não se deixa manipular por interesses pessoais de enriquecimento e poder. Professar a fé neste Deus significa comprometer-se para que este projeto do Reino de Deus se concretize a cada dia um pouco mais. Deve, inclusive nos orientar na escolha dos candidatos nas próximas eleições. Quais são os candidatos que mais garantem a diminuição do gritante abismo social que persiste no nosso país?
Sem este discernimento a pessoa é facilmente levada a seguir as lideranças e os influencers (digitais) que decidem para onde querem levar seus seguidores. Desta forma políticos espertos aproveitam-se em tempos de eleições para conseguir o voto dos eleitores com falsas promessas, divulgação de mentiras e invenção de histórias para desqualificar adversários políticos. É um perigo tão grande no Brasil que até o próprio Tribunal Superior Eleitoral está empenhado em tentar evitar e proibir este tipo de prática eleitoreira.