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24 de Fevereiro de 2023

Jejum pervertido

Pe. Miguel Ramon

A prática do jejum se encontra em todas as culturas e religiões. Pode ter várias motivações. É considerada valiosa para a saúde do corpo e da alma. Na perspectiva religiosa ajuda a purificar a mente e o coração, superar o apego a si mesmo, aos próprios interesses e desejos individualistas para entrar em comunhão mais profunda com o divino e se aproximar com maior amor das outras pessoas.
Todos os anos, durante a quaresma, quarenta dias que preparam para a festa da Páscoa, os cristãos são convidados a jejuarem. O período do jejum recorda os quarenta anos que o povo judeu passou no deserto antes de entrar na Terra Prometida. Refere-se também aos quarenta dias que Jesus permaneceu no deserto antes de iniciar sua missão pública.
Jejuar, no sentido bíblico, significa purificar-se de tudo que impede a vivência amorosa com Deus. É renovar a aliança com Ele, é voltar no caminho da vida por Ele proposto, é se deixar conduzir por seu Espírito.

Jejuar é um meio para facilitar a CONVERSÃO, para retomar o rumo da vida conforme o Projeto de Deus a nível pessoal e na convivência com os irmãos e as irmãs. Jejuar é deixar de lado, abster-se de tudo que possa ofuscar o lugar central de Deus e do seu Projeto de amor na nossa vida.
Sendo um meio, não é uma meta a alcançar. Não é um tipo de dieta para conseguir perder alguns quilos supérfluos. Pode até ser saudável comer e beber menos, reduzir as noitadas de prazer e diversão, mas somente isso não corresponde àquilo que é proposto ao cristão como prática quaresmal.
Já os profetas no Antigo Testamento advertem contra o jejum de aparências que se manifesta em práticas exteriores, mas que não leva a uma maior busca de justiça, de solidariedade e de preocupação com os famintos e explorados da sociedade.

Não há jejum autêntico sem partilha e aproximação dos que nem têm o mínimo necessário para viver com segurança alimentar e dignidade. Um jejum de verdade não se mede pelo número ou a qualidade de refeições e de lanches, mas pela intensidade da partilha de comida e de afeto com os famintos e necessitados. Jejum apenas como exercício para a própria perfeição sem repercussão na convivência fraterna e empenho para promover uma sociedade mais justa, facilmente se torna uma perversão.

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