28 de Agosto de 2023
Morte matada
Pe. Miguel Ramon
O assassinato de Mãe Bernadete, líder do quilombo Pitanga dos Palmares em Simões Filho, onde exerceu também importante função religiosa como mãe de santo, chocou o Brasil inteiro e teve até repercussão mundial. Não é somente a criminalidade, o racismo e o preconceito religioso que provocam assassinatos como esse. Infelizmente a morte violenta de tantas pessoas, especialmente de jovens negros da periferia, aumenta a cada dia. Gera um clima generalizado de insegurança e impunidade. Todos os dias assistimos a notícias de crianças e outras pessoas vítimas de balas perdidas.
O que sempre nos escandaliza são as mortes de inocentes, especialmente de crianças e pessoas como Mãe Bernadete. Ainda bem que dentro do coração humano existem sentimentos de indignação, repúdio, revolta e compaixão diante de tais fatos. A vida é bonita demais quando é vista na alegre face de uma criança, de um adolescente em pleno desenvolvimento ou de uma idosa marcada pela sabedoria. Parece que uma bala que mata, atinge, ao mesmo tempo, a nossa própria vida. Tornamo-nos mais conscientes que a vida deve ser protegida a todo custo.
Não podemos ficar indiferentes diante da morte. É inevitável que cada ser que nasce também morra. A ciência pode até procurar meios para prolongar a vida e a medicina já alcançou grandes avanços que permitem levar a duração de uma vida humana a patamares mais elevados, mas nada conseguiu evitar que continuemos sendo mortais. Não há como evitar a morte natural, mas morte matada é algo totalmente inaceitável e, na maioria das vezes, evitável.
Há, sem dúvida, muitos fatores que contribuem para aumentar o número de pessoas que morrem de forma violenta. Precisamos nos perguntar quais são as causas e as ideologias que defendem e promovem violência, morte e destruição do outro. De onde vêm balas perdidas? Quem as fabrica? Quem as vende e as compra? Quem está interessado em distribuir e vender sempre mais armas? De onde veio a arma usada e qual a pessoa que fez uso dela? Por que motivo? Precisamos ir mais fundo ainda e nos perguntar: Que tipo de sociedade é essa em que a vida humana é tão pouco valorizada? Na selva animais matam outros animais para se defender e sobreviver. Será que ainda não evoluímos a um grau mais alto de humanização?