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10 de Janeiro de 2023

Narrativas natalinas (3)

Pe. Miguel Ramon

A narrativa religiosa tem sua origem nos evangelhos de Mateus e Lucas que nos contam o nascimento de Jesus. Os dois evangelistas têm versões diferentes do nascimento de Jesus, que para os cristãos é o elemento central da festa de Natal. A data de 25 de dezembro só foi fixada no século 4 pelo Papa Júlio, cristianizando desta forma as celebrações pagãs que cultuavam o sol, que no hemisfério norte proporciona dias mais longos a partir desta data. Elementos de festividades pagãs como cantos, danças, decorações e banquetes continuavam se misturando com a celebração religiosa durante a Idade Média. A Igreja sempre tentou dar a estes elementos das celebrações populares um sentido religioso por exemplo, criando cantos com conteúdo natalino ou substituindo a luz do Sol pela Luz de Cristo.

A narrativa religiosa ganhou força a partir do momento que começou a tradição de montar presépios. São Francisco foi o primeiro a montar, dentro da gruta onde ia celebrar a missa, no Natal de 1233, uma representação do estábulo onde Jesus nasceu, levando para lá um boi e um burro junto com as figuras da família de Nazaré. A ideia do Santo era facilitar a compreensão do mistério de Natal para o povo simples. O costume se espalhou rapidamente por todos os países católicos da Europa. Era fácil juntar os pastores e seus rebanhos encontrados no Evangelho de Lucas aos Reis Magos, que visitam o menino Jesus em uma casa (!!) em Belém conforme narra São Mateus. A montagem de um presépio iniciou pois como elemento para ajudar na evangelização das pessoas menos cultas. Este aspecto continua presente na chamada religiosidade popular, quando as pessoas se deixam tocar pelo mistério do nascimento do menino Deus. A alma da pessoa religiosa contempla no presépio a presença de Deus e se sente tocada por Ele. Participar da “Missa do galo” e escutar os cantos natalinos conhecidos desde a infância foi e é por muitos fonte de grande alegria e de paz interior. A beleza da experiência religiosa está quase totalmente ausente nos casos em que o presépio é apenas elemento folclórico e cultural.

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