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16 de Janeiro de 2023

Narrativas natalinas (4)

Pe. Miguel Ramon

A narrativa humanística. Parece que no tempo de Natal as pessoas estão mais dispostas a viver como irmãos e irmãs, com uma atenção maior aos mais vulneráveis. O coração humano está mais sensível à dor e às necessidades do outro. Procura-se de diversas formas promover amizade e proximidade. São inúmeras as iniciativas de partilha de comida, de roupa, de remédios e de afeto para com os que carecem deles. É o tempo de distribuir presentes nos abrigos de crianças e idosos. Torna-se mais feliz quem recebe e quem doa. É uma alegria compartilhada. No clima de Natal ressurgem princípios de solidariedade, de vizinhança e de compaixão. O desejo de Paz e de convivência pacífica nas famílias e no mundo inteiro se faz sentir mais fortemente. É um tempo de reconciliação e de perdão.

Parece que também para pessoas não-cristas, Natal traz uma luz de esperança em um mundo melhor, sem discriminação e exploração dos mais fracos. Natal não combina com armas, violência, briga e guerra. Tem uma história muito bonita que durante a primeira guerra mundial, uma noite de Natal, os soldados alemães de um lado, e tropas inglesas do outro lado, saíram das suas trincheiras e foram se encontrar no campo que ficava entre os dois para lá durante uma breve interrupção de ferozes batalhas, pelo menos guardar um momento de confraternização. Recentemente, Vladimir Putin, o presidente da Rússia, que é responsável por milhares de mortos na Ucrânia, propôs um cessar-fogo de 36 horas para poder celebrar Natal. Deixar de matar durante um curto período pode até parecer um gesto de humanismo, mas se depois disso aumentam as atrocidades?

O tempo natalino ainda é capaz de tocar no coração de homens e mulheres de boa vontade, de renovar a esperança no ser humano que saiba amar sem discriminação ou preconceitos. O menino desarmado que nasce pobrezinho em Belém, deixou de alguma forma traços na humanidade que se abre por tudo que é frágil e desamparado. Num mundo envolto em trevas, onde milhares vivem em condições sub-humanas e morrem de fome ou de doenças porque não tem acesso a vacina, remédios e médicos, onde outros tantos caem vítimas das guerras e da violência, ainda tem pessoas que persistem em serem luz e amparo para quem às vezes não acredita mais no ser humano.

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